quinta-feira, 19 de abril de 2012

Tempo

(Olie)

Tem coisas que simplesmente devemos deixar ir. Não que não doa, dói. Mas, são umas dessas coisas que só se antecipa a dor. Ameniza o que podia ser insuportável. Ainda assim dói demais.

É inevitável, irreparável e fato. Mesmo que o peito anseie por luta, a cabeça insiste em sossego. Esse falso sossego que traz alívio provisório. Se convencer que é a coisa certa a fazer é difícil, mas o tempo cuida disso, não apaga, mas cuida.

Dono da verdade, dono da minha verdade. Senhor do possível. Você que limpou meu coração de tudo que era nocivo. Você e eu juntos. Parceiros de uma vida toda. Tirou meu sono, me deu alento. Me trouxe lágrimas, mas nunca esteve tão longe que não pudesse me dar colo. Perfeito demais pra ser de minha propriedade. Eu te deixo ir. Na verdade me perdi de ti, não sei dizer em que momento.

segunda-feira, 26 de março de 2012

IDEIA ADVERSA

(Giovani Iemini)

reflita:
a ideia adversa
que te irrita
é só o que você não aceita

digo: aceita
verá que a briga aflita
é tolice controversa
se tolerar facilita

AFONIA

(Jorge Mendes)

não estou falando
de colibris
nem de lírios
nem de abismos
não me fascina
o brilho
de vidro moído
de musas, lluvias e divas
o meu pôquer com a língua
não tem ás nem asas
o que escrevo
não voa
sangra
é mais suicídio
do que poesia
não rimo: desatino.

para uma moça que queria se reinventar

(Bento Calaça)

para se mudar o passo
muda-se primeiro a sombra
em uma parede virgem de lagartixa

espera-se a primeira lua
nova bater na parede
aí dá-se o primeiro passo
(sempre com o pé esquerdo)
ao contrário da sombra

é na parede que o passo se alinha
à nova cadência da alma.

o nome vai se ajustando
num parafuso de rosca francesa
para aproveitar o perfume de uma estrela

passo e nome mudados,
dê um tempo com eles
num quarador com anil


é só para não ficar resquício de um ex amor
mal lavado.

quinta-feira, 1 de março de 2012

INDECISÕES

(Eduardo Perrone)

Pratico a arte absurda
Da racionalidade absoluta,
Que cobiça o Premio Nobel,
E que não chega
A parte alguma.


Em suma...
Acho que fui um babaca
A vida toda.


Fico aqui pensando
E coçando os culhões,
Quais forma as causas
Dessas minha indecisões
Que, como já disse,
Não me trouxeram nada
Além de risos
Que ri de mim mesmo.


Em suma...
Acho que vivi a esmo
A vida toda.


Talvez uma certa dose
Inconfessável de machismo,
Quiçá, mesmo esse tal achismo
Tão na moda.
É vida, e é a roda,
Que me gira bem na frente,
Rodando de um jeito diferente
Que machuca tanto.

Em suma...
Acho que abafei o pranto
A vida toda.



Vamos , então, combinar:
A vida vai passar.
A raiva vai passar.
E talvez a gente
Nunca consiga entender...
Porque eu decidi matar você,
Usando apenas umas letras
Meio tortas.
Foram vidas
Que já nasceram tortas.
A minha e a tua,
E, na verdade
Uma verdade nua,
Que se despiu diante de nós,
Antes que tivéssemos tido a coragem
De levantar a voz,
Para pedir que ela
Se vestisse.


Em suma...
Acho que erramos tudo
A vida toda.

DO QUE ADIANTA, DIANTE DO QUE.


(Eduardo Perrone)


Do que adianta
A fome imensa,
Se é a recompensa
A fruição que te trai...?
Entra tempo
Entre contratempos.
E o que te resume
É apenas o tempo que sai.

E diante do oráculo mudo
Percebo que mudo.
Minha consciência muda,
Minha voz é muda,
E tão calada e calma fenece,
Como em reza que não se esquece,
Parte santificada de mim.
Minha alma abandona-me.

Sim. Foi assim...


Do que me adiantou
Os freios e fórceps?
Ter-me feito
Forte?

Diante do que pereci,
Duramente descobri
Que não sou mais forte do que o mundo.
De que sou apenas um vagabundo
Que imaginou
Poder algo...
Poeta, pensador.
Hermético convincente e ético.
E do que adiantou?
Se mil mundos me tramaram
A morte?
Se diante do que
Se convenciona chamar de sorte,
Eu pude apenas perceber
Que não pertenço a você,
E que o mundo que te cerca,
É feito de cerca viva.
De morte viva.
De águas-vivas
Que queimam tanto.



Fica combinado assim.
Esquece tudo o que eu disse.
Esquece tudo que escrevi.
Afoga tua mágoa
Na sordidez líquida do mundo.
Entorna o que vivemos
Em apenas um segundo.
Arrota.
Levanta a poeira.
E me esquece.
Disso que me adianta,
Diante do que te parece.
De nada valem novas tentativas.
E lembra...
Essa agora é a minha prece.
Minha comunhão.
Minha decisão.



A vida de que me adianta assim,
Diante do que desejo não.
Um sentimento estranho,
Uma estranha visão...
De que pele ferida
Ainda fere,
E que , mesmo o ferro,
Não teve a dureza
Da traição.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

foz

(Larissa Marques)

outrora manso
o olhar de água doce
que feito riso e rio
mata ânsia e sede
hoje só
encontro o sal
do mesmo olhar

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

ACALANTO PARA ABSTINÊNCIAS E VAZIOS


é a falta e a lacuna quem cria
(Paul Valéry)

é para agasalhar ausências que teço este poema
fantasmas não dormem
anseios me esperam

o que urge além do lábio e da
palavra
é o mesmo que me trinca o esmalte
dos dentes
vindo da lacuna que ocorre no
rastro do voo
de cada pássaro que ousei ser
neste não sentir talhado nos ossos
feito rios secos a riscar-me a pele
álveos calcinados
onde escorrem congeladas
a doçura e a tortura
de vozes e olhares idos ou perseguidos
dentro de um pretérito que me
bate à cara
ou em um porvir que se me escancara

é para agasalhar ausências que teço este poema
de vazios e de abstinências
e me permito à lagrima
tanto quanto ao riso

(Celso Mendes)

Canção e Silêncio

(Cristhina Rangel)

Deixe-me sussurrar ao
teu ouvido

Uma poesia em forma de
canção

Suave, serena

Uma dessas canções
que escorrem

pra dentro da gente

feito pé no limo da
pedra

lá bem perto da queda
d'água


Deixe assim minha voz
leve

carregada de doçura te
embalar

Nesse ritmo que só
você conhece

Uma cantiga de ninar
pra amadurecer

o meu menino.

Para ameninar meu homem

Numa brincadeira gostosa

que se esconde na minha
voz


Eu sei dizer Te amo,
sem dizer te amo

é só dizer que eu me
afino com seu jeito

e o seu jeito com minha
rima

e a minha rima combina
com o teu silêncio

e o teu silêncio é
que me nina.

Assim o teu silêncio é minha canção

e minha canção é teu silêncio

cheio de olhar.



sábado, 11 de fevereiro de 2012

Canção Para Amor Nenhum

(Lili Ribeiro)

Se um dia te amei foi mentira
Se um dia te deixei, é porque nunca estive aqui
E agora, se quero voltar, não me aceite.
Não me aceite.
Faça-me um favor
Nunca deixe que eu te queira outra vez
Não preciso sofrer.
Mas hoje, por favor, faças as malas e leve o que restou.
Não, não. Não quero sofrer outra vez.
Deixa tudo como está. As louças, os troféus e os nossos lençóis.
Eles não farão falta pra você, porém a mim, lembrará que aqui morreu um amor.
Mas, faça-me um favor, não volte outra vez.

Não posso deixar que meu amor seja assim, desperdiçado.
Uma onda passa em meu olhar
Sei que ela tenta enganar-me
Mas não posso aceitar, pois foi um fardo te amar.

Foi um fardo
Sim, foi um fardo.

Seu ombro machuca cobra e dói.
Seu olhar pesa, destrói.
Se acaso penso no passado saiba que não é por acaso
Estou me policiando, para não tropeçar no teu jeito macho de mandar.
E sem querer acabar por te obedecer.
A tentação é forte eu sei, mas é mentira.
Você torce para dar certo, mas eu quero tudo errado.
Pra você eu tenho um presente.
Uma caixa de surpresa decorada de corações vermelhos
Mas não pense que encontrará nele, amor.
É só vazio, vazio, vazio
O coração que dou.