(Eduardo Perrone)
Do que adianta
A fome imensa,
Se é a recompensa
A fruição que te trai...?
Entra tempo
Entre contratempos.
E o que te resume
É apenas o tempo que sai.
E diante do oráculo mudo
Percebo que mudo.
Minha consciência muda,
Minha voz é muda,
E tão calada e calma fenece,
Como em reza que não se esquece,
Parte santificada de mim.
Minha alma abandona-me.
Sim. Foi assim...
Do que me adiantou
Os freios e fórceps?
Ter-me feito
Forte?
Diante do que pereci,
Duramente descobri
Que não sou mais forte do que o mundo.
De que sou apenas um vagabundo
Que imaginou
Poder algo...
Poeta, pensador.
Hermético convincente e ético.
E do que adiantou?
Se mil mundos me tramaram
A morte?
Se diante do que
Se convenciona chamar de sorte,
Eu pude apenas perceber
Que não pertenço a você,
E que o mundo que te cerca,
É feito de cerca viva.
De morte viva.
De águas-vivas
Que queimam tanto.
Fica combinado assim.
Esquece tudo o que eu disse.
Esquece tudo que escrevi.
Afoga tua mágoa
Na sordidez líquida do mundo.
Entorna o que vivemos
Em apenas um segundo.
Arrota.
Levanta a poeira.
E me esquece.
Disso que me adianta,
Diante do que te parece.
De nada valem novas tentativas.
E lembra...
Essa agora é a minha prece.
Minha comunhão.
Minha decisão.
A vida de que me adianta assim,
Diante do que desejo não.
Um sentimento estranho,
Uma estranha visão...
De que pele ferida
Ainda fere,
E que , mesmo o ferro,
Não teve a dureza
Da traição.
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