terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O raio da rosa

(José Ferreira)


meus pés
não estão para a terra

é a rosa
encravada no solo

artefato
construído do ódio

que por um fio
a vida se encerra!

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Amnestía

(Sara Reis)


Em noites tristes, de calor e frio,
As linhas prateadas, paralelas
Meus olhos acompanham no vazio
Traçado pela lua nas janelas.

Insone, porque o sono e eu não somos
Amigos ou parceiros... Convivemos
E eu ganho as horas, pois o tempo pomos
Na estante das lembranças que tivemos.

E vai me dominando um tal cansaço!
Tenho alucinações: um vão rotundo
De bolhas coloridas, em que faço

A flor da indiferença ir lá pro fundo
Da mente e transformar-se, em meu regaço,
Na rosa mais bonita desse mundo...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Bilhete raso para meu fantasma.

(Véio China)

Para meu fantasma
Deixo somente um recado
Vade retro velho safado
Não me olhes de espreita
Nem tinja as penas deste alado
Aqui estou e tudo se ajeita
Eis que.....
Longe de ser rei
Num pobre coitado, prometo
Não me velarei

Me deixe aqui
Olhos, pele e osso
Até que tudo desintegre
Longe do moço que um dia fui
E além daquilo que me tornei
[Apenas um velho alegre]
Porém, se quiseres minha alma
Eu te darei sem dó e sem compaixão
Te põe na estrada que hás de encontrá-la
Nas brasas insanas do Diabo que te carregue

Paixão

(Calaça)

Amor
sem asas.

Que bate
sobre
o rochedo

e Sangra.

domingo, 1 de janeiro de 2012

No dia da minha morte ( Véio China )



No dia da minha morte
Não me sufoquem de terra
E nem me ardam em chamas
Não quero o vento me adejar partículas
e nem o pó me importunando os olhos

No dia da minha morte
Me deixem lá, quieto, sereno,
olhos fechados, exauridos em silêncios
Insensíveis aos bocejos de condolências
Cegados às lágrimas de momento

No dia da minha morte,
Livrem-me das faixas e das coroas
Removam as flores que me ladeiam
pois tanto as feias como as mais belas
exalam um cheiro doce que me incomoda

No dia da minha morte
um único e desmedido favor:
Com minhas angústias revistam o caixão,
pois sobreviventes do que não resisti, eu sei:
Elas sim jamais me deixaram só

Soneto dela (ou soneto do perdão que não tive)


(Paulinho Dhi Andrade)

Sentiu esperança quando me conheceu.
Cheirou flores, perfumou as roupas,
Deu bom dia ao sol,
Bebeu água e comeu.

Já na primeira briga trancou-se em casa,
Negou-se aos amigos,
Jejuou e não bebeu.
Noites em claro nem dormiu.

O homem que tanto em mim via e desejava
Já não existia nem por prece,
E você chorou.

Nem mesmo outros pedidos de perdão
Serviram como chaves para abrir
Onde hoje seu coração magoado habita.