sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Única

(Sara Reis)

Eu quero ser a única saudade,
Fazendo eco aí na tua mente.
Eu mesma, aquela ânsia que te invade
Nas horas de sossego, de repente.

Ser força tão marcante e tão presente,
Pra estar constante nos teus pesadelos;
A essência desse vento que tu sentes,
De súbito, a enroscar em teus cabelos.

Contigo, de mãos dadas pela rua,
Andar e só sorrir e fazer graça e
Deitar na tua rede, olhando a lua...

Dançar contigo músicas na praça,
E, depois disso, amor, então ser tua,
A musa em todo verso que tu faças...

Sereiano

(Rosa Cardoso)

se escuta, sei que não vê
ainda assim o canto ressoa:


é o abismo,
de tantos acordes,
ecos e promessas
que a doce voz entoa.


ondas sinuosas
repletas de vazio.


incrustadas em silêncios,
tons quentes embalam
as antigas rochas pálidas
que atraem os corpos frios.


entre os cantos, que não vês
e a neblina dos meus desejos


teu doce engodo
afaga meus semi-tons
– suave desvario –
e transforma minha voz
em vagas de segredos.


Não-soneto Esquizo-dadadodecassílabo Pobre de Rima

( Carlos Cruz )

.
Alvissareiro, o pedreiro filosofa o comércio do amor
Cachaceiro, o tesoureiro vaticina a vacina contra a dor
Matreiro, o vaqueiro tosquia a ovelha do pastor
Brejeiro, o cordeiro ludibria o astuto pensador

Canibalista, o hindu rumina a musical oração
Humanista, o soldado prepara a miraculosa poção
Demonista, o santo apregoa as pregas do sacristão
Fetichista, o exegeta ejeta na aorta o sabão

A Pangéia doente vomita proletários
Tapuias hasteiam a divinal bandeira
Os farrapos devotos da Régia Cangaceira

Riso escarninho, safadeza e: que otários!
Os suados gravatas bravatas crocitam
Fodam-se os asnos que nos criticam

Úmido

(Celso Mendes)


água de palavra esquecida no coração
lacrimada da mente
presa nos olhos
refletida em madeira mofada
endurada na pedra
vertida em sangue e seiva
tragada do mundo
(bebedouro vitalício do bem e do mal)

hoje decidi silenciar corredeiras
e mimar dois pingos na palma da mão

é triste ver a água chorar

Carne Nua e Crua

(Sonia Cancine)

.
O branco vazio de seu sarcasmo
Na retina de meu asco
Conota a lascívia de seu ego
Diante da via imperatriz

Desfila e destila seu veneno
E abiscoita mente crua de carne nua
Que abocanha a podridão

De mente vazia, carne nua e crua
Agride a veia sangrenta.
E mutila na idolatria, a paixão
Tornando indigesta a visão

Por vias absurdas
A prepotência é risível

Os olhos atentos
Na morbidez de seus atos
A tudo observam aleivosia
Aos cuidados do verdugo
Diante de riste predador