segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

foz

(Larissa Marques)

outrora manso
o olhar de água doce
que feito riso e rio
mata ânsia e sede
hoje só
encontro o sal
do mesmo olhar

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

ACALANTO PARA ABSTINÊNCIAS E VAZIOS


é a falta e a lacuna quem cria
(Paul Valéry)

é para agasalhar ausências que teço este poema
fantasmas não dormem
anseios me esperam

o que urge além do lábio e da
palavra
é o mesmo que me trinca o esmalte
dos dentes
vindo da lacuna que ocorre no
rastro do voo
de cada pássaro que ousei ser
neste não sentir talhado nos ossos
feito rios secos a riscar-me a pele
álveos calcinados
onde escorrem congeladas
a doçura e a tortura
de vozes e olhares idos ou perseguidos
dentro de um pretérito que me
bate à cara
ou em um porvir que se me escancara

é para agasalhar ausências que teço este poema
de vazios e de abstinências
e me permito à lagrima
tanto quanto ao riso

(Celso Mendes)

Canção e Silêncio

(Cristhina Rangel)

Deixe-me sussurrar ao
teu ouvido

Uma poesia em forma de
canção

Suave, serena

Uma dessas canções
que escorrem

pra dentro da gente

feito pé no limo da
pedra

lá bem perto da queda
d'água


Deixe assim minha voz
leve

carregada de doçura te
embalar

Nesse ritmo que só
você conhece

Uma cantiga de ninar
pra amadurecer

o meu menino.

Para ameninar meu homem

Numa brincadeira gostosa

que se esconde na minha
voz


Eu sei dizer Te amo,
sem dizer te amo

é só dizer que eu me
afino com seu jeito

e o seu jeito com minha
rima

e a minha rima combina
com o teu silêncio

e o teu silêncio é
que me nina.

Assim o teu silêncio é minha canção

e minha canção é teu silêncio

cheio de olhar.



sábado, 11 de fevereiro de 2012

Canção Para Amor Nenhum

(Lili Ribeiro)

Se um dia te amei foi mentira
Se um dia te deixei, é porque nunca estive aqui
E agora, se quero voltar, não me aceite.
Não me aceite.
Faça-me um favor
Nunca deixe que eu te queira outra vez
Não preciso sofrer.
Mas hoje, por favor, faças as malas e leve o que restou.
Não, não. Não quero sofrer outra vez.
Deixa tudo como está. As louças, os troféus e os nossos lençóis.
Eles não farão falta pra você, porém a mim, lembrará que aqui morreu um amor.
Mas, faça-me um favor, não volte outra vez.

Não posso deixar que meu amor seja assim, desperdiçado.
Uma onda passa em meu olhar
Sei que ela tenta enganar-me
Mas não posso aceitar, pois foi um fardo te amar.

Foi um fardo
Sim, foi um fardo.

Seu ombro machuca cobra e dói.
Seu olhar pesa, destrói.
Se acaso penso no passado saiba que não é por acaso
Estou me policiando, para não tropeçar no teu jeito macho de mandar.
E sem querer acabar por te obedecer.
A tentação é forte eu sei, mas é mentira.
Você torce para dar certo, mas eu quero tudo errado.
Pra você eu tenho um presente.
Uma caixa de surpresa decorada de corações vermelhos
Mas não pense que encontrará nele, amor.
É só vazio, vazio, vazio
O coração que dou.



Noctívago

(Véio China)

Talvez

A madrugada seja unicamente a ilusão
Um falcão de coração apertado
Que mira a caça com os olhos fincados


Talvez

A madrugada seja nada mais que murmúrios
O lamento rajando como o vento de fora
Um uivo que desimporta no rogo das horas


Talvez, e só talvez

A madrugada seja apenas a mulher que vai me matar
Com requintes dos mil ardis, sem me deixar saber
Se de amor, dor, ou por um reles prazer