segunda-feira, 26 de março de 2012

IDEIA ADVERSA

(Giovani Iemini)

reflita:
a ideia adversa
que te irrita
é só o que você não aceita

digo: aceita
verá que a briga aflita
é tolice controversa
se tolerar facilita

AFONIA

(Jorge Mendes)

não estou falando
de colibris
nem de lírios
nem de abismos
não me fascina
o brilho
de vidro moído
de musas, lluvias e divas
o meu pôquer com a língua
não tem ás nem asas
o que escrevo
não voa
sangra
é mais suicídio
do que poesia
não rimo: desatino.

para uma moça que queria se reinventar

(Bento Calaça)

para se mudar o passo
muda-se primeiro a sombra
em uma parede virgem de lagartixa

espera-se a primeira lua
nova bater na parede
aí dá-se o primeiro passo
(sempre com o pé esquerdo)
ao contrário da sombra

é na parede que o passo se alinha
à nova cadência da alma.

o nome vai se ajustando
num parafuso de rosca francesa
para aproveitar o perfume de uma estrela

passo e nome mudados,
dê um tempo com eles
num quarador com anil


é só para não ficar resquício de um ex amor
mal lavado.

quinta-feira, 1 de março de 2012

INDECISÕES

(Eduardo Perrone)

Pratico a arte absurda
Da racionalidade absoluta,
Que cobiça o Premio Nobel,
E que não chega
A parte alguma.


Em suma...
Acho que fui um babaca
A vida toda.


Fico aqui pensando
E coçando os culhões,
Quais forma as causas
Dessas minha indecisões
Que, como já disse,
Não me trouxeram nada
Além de risos
Que ri de mim mesmo.


Em suma...
Acho que vivi a esmo
A vida toda.


Talvez uma certa dose
Inconfessável de machismo,
Quiçá, mesmo esse tal achismo
Tão na moda.
É vida, e é a roda,
Que me gira bem na frente,
Rodando de um jeito diferente
Que machuca tanto.

Em suma...
Acho que abafei o pranto
A vida toda.



Vamos , então, combinar:
A vida vai passar.
A raiva vai passar.
E talvez a gente
Nunca consiga entender...
Porque eu decidi matar você,
Usando apenas umas letras
Meio tortas.
Foram vidas
Que já nasceram tortas.
A minha e a tua,
E, na verdade
Uma verdade nua,
Que se despiu diante de nós,
Antes que tivéssemos tido a coragem
De levantar a voz,
Para pedir que ela
Se vestisse.


Em suma...
Acho que erramos tudo
A vida toda.

DO QUE ADIANTA, DIANTE DO QUE.


(Eduardo Perrone)


Do que adianta
A fome imensa,
Se é a recompensa
A fruição que te trai...?
Entra tempo
Entre contratempos.
E o que te resume
É apenas o tempo que sai.

E diante do oráculo mudo
Percebo que mudo.
Minha consciência muda,
Minha voz é muda,
E tão calada e calma fenece,
Como em reza que não se esquece,
Parte santificada de mim.
Minha alma abandona-me.

Sim. Foi assim...


Do que me adiantou
Os freios e fórceps?
Ter-me feito
Forte?

Diante do que pereci,
Duramente descobri
Que não sou mais forte do que o mundo.
De que sou apenas um vagabundo
Que imaginou
Poder algo...
Poeta, pensador.
Hermético convincente e ético.
E do que adiantou?
Se mil mundos me tramaram
A morte?
Se diante do que
Se convenciona chamar de sorte,
Eu pude apenas perceber
Que não pertenço a você,
E que o mundo que te cerca,
É feito de cerca viva.
De morte viva.
De águas-vivas
Que queimam tanto.



Fica combinado assim.
Esquece tudo o que eu disse.
Esquece tudo que escrevi.
Afoga tua mágoa
Na sordidez líquida do mundo.
Entorna o que vivemos
Em apenas um segundo.
Arrota.
Levanta a poeira.
E me esquece.
Disso que me adianta,
Diante do que te parece.
De nada valem novas tentativas.
E lembra...
Essa agora é a minha prece.
Minha comunhão.
Minha decisão.



A vida de que me adianta assim,
Diante do que desejo não.
Um sentimento estranho,
Uma estranha visão...
De que pele ferida
Ainda fere,
E que , mesmo o ferro,
Não teve a dureza
Da traição.